Quando uma mulher sofre violência entre quatro paredes, a solidão dela diante do agressor pode ser fatal. Por isso é importantíssimo que ela conte com a solidariedade de quem perceba a agressão – e denuncie. Pode ser um vizinho, um funcionário de um condomínio ou mesmo quem esteja passando na rua num momento desses.
As mudanças começaram aos poucos: uma reclamação da roupa, depois a implicância foi com os amigos, trabalho. Logo, o casamento virou agressão.
“Eu estava presa dentro de um círculo. Eu não conseguia sair dessa violência. São marcas que vão ficar para o resto da minha vida”, diz uma mulher.
A mulher que tem uma relação violenta dentro de casa muitas vezes não consegue pedir ajuda. Medo, vergonha, culpa. Achar que o companheiro vai mudar, que as agressões vão diminuir são alguns dos motivos para o silêncio. O Brasil é o quinto país onde as mulheres mais sofrem com agressões domésticas no mundo.
A advogada Marina Ganzarolli é coordenadora de uma rede feminista de juristas que ajuda mulheres vítimas de violência. Para ela vizinhos, porteiros, colegas de trabalho, todo mundo tem que denunciar situações de violência contra a mulher.
“Por isso que a gente diz que em briga de marido e mulher se mete a colher sim porque, no próximo momento em que esse ciclo de violência se completar, a segunda agressão vai ser mais grave, a terceira ainda mais grave e um dia ela vai morrer”, afirma.
De janeiro a julho de 2018, foram quase 80 mil denúncias de agressão a mulheres no país. Física, psicológica, sexual, moral, cárcere privado. Não tenha medo de ligar para o 180 do Disque Denúncia. Não é preciso se identificar. O serviço é de graça e funciona 24 horas por dia.
“Nós precisamos ter a sensibilidade de perceber a mudança de comportamento dessas pessoas tão próximas a nós, e aí oferecer ajuda. Se perceber que ela está numa situação de violência, mas não quer denunciar, então faça isso. Faça um Disque-Denúncia ou vá numa delegacia, informe os fatos para que possamos evitar um feminicídio futuro”, alertou a delegada Renata Cruppi.
Há 11 meses uma mulher sofreu uma agressão bárbara e covarde. Na frente dos filhos, o marido arrancou com mordidas parte do nariz e uma orelha dela.
“Eu nunca tive uma marca de expressão no meu rosto. Nunca. E acordei assim num dia em que alguém simplesmente arrancou isso de mim”.
Os vizinhos ouviram os gritos, foram para a porta da casa, mas ninguém chamou a polícia e o marido fugiu. Se alguém tivesse dado um único telefonema ele teria sido preso em flagrante.
“A gente socorrer, a gente denunciar, a gente evita que a pessoa vá para hospital e que pessoas morram também”, afirma a mulher.